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Fleabag: O Emmy, a série e mais!


Se tem uma série que roubou a atenção na noite do Emmy 2019, essa foi Fleabag. A original da Amazon Prime, escrita, dirigida e protagonizada por Phoebe Waller-Bridge, vem quebrando padrões dentro da comédia televisiva e nos ensinando muito sobre escrita criativa, voz do autor e construção de universo. Então vamos comentar sobre ela!


Fleabag é categorizada como uma sitcom, com episódios de 30 minutos. Porém o humor empregado na série é diferente do que estamos acostumados a ver na televisão com as comédia mais tradicionais. Podemos classificá-lo como um humor exótico e extravagante, abordando sempre a ótica de sua protagonista, encaramos situações reais que são pontuadas por comentários, edição inteligente e atuação planejada, que corroboram para criar a situação de comédia. Claramente não é uma série que o fará rir por situações nonsense, longe disso, ela chega a ser bem realista, mas sempre acaba se apoiando no sarcasmo, toda cena pode ser subvertida para causar o riso através dos pequenos detalhes, ao qual sua roteirista constrói com tamanha proeza.


Comentários: Muita da mágica e da identidade própria da série vem dos comentários feitos por Fleabag, que constantemente quebra a quarta parede para conversar com a audiência e adicionar informações que podem muito bem aumentar nossa visão de universo ou simplesmente subverter uma situação para algo cômico. Fleabag pode ser encaixada como o tipo onisciente, ela tem informações sobre outros personagens que acabam sendo expostas a nós através de suas observações, um jeito inteligente de evitar a exposição desnecessária. Contudo sua personagem ainda é vítima do acaso, e passa por problemas durante a série, quase sempre provenientes do seu impeto de verbalizar seus sentimentos e ser verdadeira. A série faz questão de mostrar sua impotência perante alguns assuntos calando-a, se a voz é sua principal arma, o silêncio é seu inimigo.


Edição Inteligente: Não falamos muito sobre edição aqui, pois apesar de ser um tema esquecido, é um pilar da estrutura narrativa, composição de cenas, construção de sequencias faz toda a diferença, 3 segundos a mais em uma cena pode mudar toda uma perspectiva, pode fazer a audiência mudar sua opinião. E Phoebe sabe como fazer isso, seu roteiro é repleto de frases cortadas, flashes do passado, futuro, match cuts e outros elementos. Isso provem de uma escaleta bem pensada, uma etapa que os roteiristas iniciantes negam ou dão pouca atenção, mas que pode fazer toda diferença. Um bom exemplo disso é o corte rápido que vemos na estreia da segunda temporada, quando a MADRASTA irá comentar um detalhe pessoal do padre, ao qual provavelmente geraria um desconforto na mesa. Porém ao invés de fazer a escolha mais comum, que seria a de mostrar os rostos de todos com uma expressão falsa, vemos um corte de Fleabag nos fundos expressando seu desconforto.


Atuação: Outro ponto alto da série é a atuação fenomenal, vinda não só da protagonista que é interpretada pela própria autora, mas também do elenco de apoio. Suas expressões são verdadeiras, e quase sempre encarnam os personagens, as alternativas de atuação podem transformar facilmente uma crise em uma cena engraçada, assim como as nuances podem indicar tensões quase sempre não-verbalizadas. Dentro do roteiro vemos poucas indicações sobre como os personagens devem agir, basicamente há uma economia de palavras e quase sempre é apenas o básico, o mérito vai principalmente para a direção e o preparo do elenco.

Analise - S02E01 (SPOILERS)

Para melhor compreendermos como estes elementos são aplicados na série, dissecarei abaixo o roteiro vencedor do Emmy:

COLD OPEN

A primeira frase do roteiro é uma indicação de música, no caso "Strangers In The Night", um indicativo do que podemos esperar nesse episódio.


A primeira cena já é um Flashfoward dos momentos finais do capítulo, Fleabag limpa um rosto ensaguentado, ela entrega uma toalha a alguém que também sofreu uma injuria, há uma voz desconhecida que pergunta se ela quer ajuda e informar que "Eles foram embora".

PRIMEIRO ATO


Temos uma contextualização vinda da protagonista, ela faz piadas e revela mudanças significativas. Também nos é estabelecido as tramas dessa temporada. O primeiro deles é o casamento do seu pai, ao qual ela satiriza como se fosse a morte deste. O ambiente é um restaurante chique, Fleabag veste a mesma roupa do Cold Open, o que sugere que estes eventos acontecem antes do início do episódio.

Personagens já conhecidos, como Martim, Claire, A Madrasta e o Pai compõem a mesa do restaurante ao qual todos estão, juntamente com uma figura nova. Claire é ríspida com a irmã, ela evita tomar drinks alcoólicos, uma indicação que ela está grávida. Enquanto isso somos apresentados a figura nova, o Padre, o homem que casará o pai de Fleabag.

A conversa na mesa vai-e-vem; revelando pequenas informações inéditas a audiência, tais como o emprego de Claire na Finlândia, o estado do café de Fleabag e a personalidade um tanto quanto grosseira do Padre.

Momentos fora do restaurante constroem afinidades mais próximas entre os personagens, Fleabag se sente à vontade para fumar, seu pai entrega um presente confidencial, o Padre expressa suas verdadeiras opiniões.

De volta a mesa vemos um ambiente opressor, a maioria se sente desconfortável, mas esconde de alguma maneira. Quando Fleabag é obrigada a revelar seu presente constrangedor, os ânimos se exaltam. Martim ri da situação, fazendo piadas ofensivas. Claire confronta a irmã, mas é interrompida abruptamente para ir ao banheiro.

Fleabag segue-a ao banheiro, lá é revelado que Claire está sofrendo um aborto, a segunda trama dessa temporada é introduzida. Neste momento o primeiro ato é finalizado.

SEGUNDO ATO


O segundo ato se inicia com a tensão estabelecida no final do primeiro. Claire entra em um estado de autopreservação social, ela não quer admitir o aborto. Fleabag se sente na missão de acompanhar a irmã o mais rápido para o hospital.


Com a insistente vontade de Claire de negar a ida o hospital, Fleabag assume o aborto, quebrando todo o ambiente na mesa. O PAI dela fica chocado, A MADRASTA fica com raiva, por ela roubar o momento deles, uma desavença que será explorada futuramente na temporada.


Martim, ainda debochado, faz piadas para tentar ofender a protagonista, mas que acabam atingindo Claire, sua confiança começa a fragmentar, ela não se sente mais no poder, outro aspecto que será desenvolvido.


Fleabag agride Martim, que revida, a garçonete se mete e acaba sendo agredida também, o clima da mesa piora. Cortamos para cena inicial.


Por fim o Padre tenta ajudar Fleabag e se solidariza com ela, um novo vínculo nasce, uma paixão se inicia. Fleabag ao sair do restaurante acaba se encontrando com Claire no carro. Como um último ato de confiança, as irmãs partem para o hospital, uma ação que ligará elas após a desavença da ultima temporada. Este é o clímax do episódio, não uma grande ação, como a agressão do Martim, que é referenciado no inicio, mas um ato de fraternidade.


...

Finalizando, podemos ver que esta estreia funciona exatamente como um piloto, ela introduz os principais conflitos, interesses amorosos, laços entre personagens e o contexto.

Para ler o roteiro acesse os links:

Inglês - Clique Aqui

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