Queda e Ascensão

As narrativas clássicas eram dividas entre dois gêneros: Tragédia e Comédia, o que ditava qual dos gêneros uma história se encaixava era principalmente o final, se no fim o personagem morre, é uma tragédia, se ele permanece vivo, uma comédia. Esta perspectiva dicotômica surgiu na Grécia antiga, berço da dramaturgia, claro que hoje temos mais gêneros para encaixar uma trama, mas vejamos a evolução das classificações antigas
. Durante o desenvolvimento do teatro grego, as tragédias tinham fundamentalmente vinculo com os mitos, alguns deles conhecidos até hoje, como o Minotauro e a Jornada de Hércules. Enquanto que para comédia resguardava os assuntos da polis, ou seja, críticas politicas abertas e diálogos mais cotidianos.
Focaremos a principio na tragédia. Este clássico gênero poderia ser dividido por dois tipos de momento, Ascensão e Queda, onde o personagem começaria em uma posição baixa e progrediria até chegar ao seu ápice, dando-lhe alguma vitória ou recompensa, seguido depois de uma progressão negativa, acabando quase sempre em uma morte ou um castigo eterno.
A estrutura da Ascensão e Queda foi popular por centenas de anos, saindo da Grécia até chegar em Shakespeare – com seus dramas políticos – mas então chegamos à idade moderna, onde surgi o cinema e o entretenimento de massa. Desde sempre que o cinema bebe das grandes fontes da dramaturgia teatral, com adaptações e estruturas inspiradas nos grandes clássicas – tal como A Jornada do Herói – Todavia, as estruturas de Ascensão e Queda seriam ainda aplicáveis?
Para a surpresa geral – ou de ninguém – sim!
Esta estrutura está intrinsecamente ligada a gênese do drama, e pode muito bem ser usada em qualquer filme contemporâneo. Mas se atente, hoje temos variações, uma história que termina com carga negativa quase sempre não é comprada bem pela audiência, estamos mais acostumados nos Happy Endings, ou no Felizes para Sempre, então por que não usar estes elementos de forma diferente.
Se classificarmos a estrutura tradicional dos 7 pilares da narrativa em momentos de Ascensão e Queda teríamos o seguinte esquema:
Ascensão – Queda – Ascensão.
Sim, temos dois momentos de Ascensão e um de queda, mostrando que o personagem pode começar com a vantagem, cair e se impor novamente, isto nos mostra uma linha evolutiva mais humana, sendo que nas narrativas clássicas o personagem já começa com vantagens sobre-humanas, afastando o reconhecimento da audiência com o protagonista.
Vivemos em uma época em que queremos nos ver representados em tela, e não acompanhar uma jornada de um ser perfeito. Existem roteiristas que classificam roteiros de infinitas maneiras usando estes dois momentos. Como:
Ascensão – Queda; Queda – Ascensão- Queda; Ascensão – Queda – Ascensão – Queda.
E por aí vai, até mesmo as histórias bíblicas bebem dessa fonte, como a história de Davi e Golias, que segue o ultimo esquema montado acima. Quer um exemplo de uma história contemporânea que aplica este esquema, que tal pegarmos Joker? Até o momento de publicação deste artigo o filme Joker ainda não estreio em circuito comercial, o que vem a seguir é uma suposição.
O que vemos pelos trailers, que quase sempre recriam em menor escala a estrutura do filme é que o personagem principal começará em um momento de Queda, com um emprego que lhe paga mal, e diversos problemas, provavelmente ele terá uma leve Ascensão seguida instantemente de uma Queda, ao qual fará com que haja grandes mudanças em sua personalidade, talvez o primeiro passo pra insanidade, e então ele retorna em uma Ascensão triunfante. Veja como ficou o esquema:
Queda – Ascensão (momentânea) – Queda (drástica) – Ascensão (mudança de personalidade)
Basicamente um filme de auto-descobrimento, ou como muitos chama, de origem. E então, você consegue dividir uma trama usando estes dois princípios básicos? E sobre o seu roteiro, qual esquema se encaixaria nele. Nos diga lá no grupo do Facebook.