top of page

Do Roteiro a Produção


No Brasil, durante muito tempo, e ainda até hoje, se ensina roteiro de forma errada. Eu inclusive aprendi na faculdade que roteiro nada mais é do que uma ferramenta a ser usada e interpretada por uma equipe de produção. Só fui descobrir a verdadeira função e potencial de um roteiro quando fui me especializar no exterior e vi como o mercado de fato funciona. Por isso resolvi falar um pouco sobre o caminho que o roteiro passa desde a concepção, até a filmagem.

Muitos roteiristas iniciantes que foram ensinados de forma equivocada, ficaram presos nesses dogmas antigos e se recusam a evoluir. É por isso que se vê tanto, nas redes sociais gente que não faz nada reclamando do "erro" de quem de fato, faz. Ainda bem os tempos estão mudando - não graças as universidades, que continuam insistindo no erro pra vender diploma - e hoje em dia, muita gente já pesquisa e tem um entendimento de mercado do caminho que o roteiro percorre.

PRIMEIRA FASE: Criação

No início, o trabalho é do roteirista e ele é o dono absoluto da narrativa. Nessa etapa não existe diretor nem equipe para ele dialogar, o roteiro tem como obrigação seduzir o leigo, ser agradável de ler aos olhos destreinados. Essa é a função inicial do roteiro, entreter. O roteirista aqui não precisa se preocupar em dialogar com equipe, pode usar uma linguagem mais literal e comunicar o máximo de emoção possível, pois é isso que vende o roteiro. Roteiro sem emoção não vende. É preciso oferecer ao seu leitor a mesma experiência emocional que ele vai ter vendo o filme. Dessa forma, o produtor que bater o olho no roteiro sabe que se ele se emocionou, é possível que ele consiga reproduzir esse resultado e emocionar audiência no filme. É emoção que gera prêmio e vendas, não a formatação técnica.

SEGUNDA FASE: Decupagem

Depois do roteiro pronto e aprovado pela produção, ele sai da mão do roteirista e entra na mão do produtor, que vai usar sua expertise e sua equipe para interpretar e decupar aquele roteiro. Preste atenção na palavra "interpretar", porque é exatamente isso o que acontece. Baseado no que ele ler no roteiro, ele vai tomar decisões práticas de como executar da melhor forma possível para alcançar o máximo do potencial emocional de cada cena. É aqui, que são definidos planos de câmera, movimentação, locações, elenco, figurinos, objetos de cena e tudo mais que vai compor a produção. É aqui - e somente aqui - que o roteiro se torna uma ferramenta técnica, e eu explico o porque.

Existem dois tipos de profissionais no audiovisual, lá fora, chamamos de "above the line" e "below the line". Acima da linha estão os profissionais criativos, cujos cachês são combinados e regulados por eles mesmos. Estão nessas categorias roteiristas, diretores, produtores, diretores de departamento e todo mundo que vai ter input executivo e criativo na produção.

"below the line" estão todos os técnicos assalariados, aqueles cujos pagamentos seguem uma tabela da categoria, ou legislações trabalhistas vigentes. Esses profissionais não tem poder criativo na produção e sua função é a de simplesmente executar o plano de filmagem da forma como foi instruído.

O que acontece, é que da hora em que o roteiro sai da mão do roteirista até chegar na mão do técnico, ele percorre um longo caminho por dezenas de mentes criativas que vão interpretar e traduzir a emoção de cada cena em termos práticos para que os técnicos possam executar. Por isso, se você ver alguém reclamando que um roteiro muito literário atrapalha a vida dos técnicos, já sabe que essa pessoa nunca pisou num set profissional e não sabe o caminho que o roteiro percorre até chegar na produção. não sabe que o técnico apenas executa ele não interpreta.

TERCEIRA FASE: filmagem

Por mais que a equipe de produção planeje e decupe, o roteiro sempre vai acabar mudando na hora da filmagem. Não é a história, a estrutura nem o plot que mudam, mas pequenos detalhes que serão adicionados na hora pelos atores e pelo diretor. Uma frase que fica melhor dita de outra forma. é o clima e a emoção do set de filmagem que vai ajudar a dar esse termômetro para o diretor, que aqui é quem toma as decisões. Não adianta para o roteirista querer que seu roteiro fique imaculado até o filme, afinal, cinema é uma arte colaborativa. Limitações das locações, sugestão dos atores e chefes de departamento, tudo isso vai ajudar a dar vida ao roteiro.

QUARTA FASE: Montagem

E é na ilha de edição que o filme muda mais uma vez. Na universidade aprendemos que existem três filmes: O que o roteirista escreveu, o que o diretor filmou e o que o editor montou e muitas vezes o resultado final pode ser algo completamente diferente da intenção original. Faz parte do business.

O importante a saber, é que o roteiro que o roteirista escreve NÃO É O MESMO que chega para a equipe de filmagem. Portanto, técnicos, podem ficar tranquilos, que a forma como roteiristas escrevem seus roteiros não afetam em absolutamente nada seu trabalho.

Quer mais artigos sobre roteiro e mercado? compartilhe esse artigo e deixe sua curtida na nossa fanpage porque isso nos ajuda a crescer.

fd11_Banner_220x220.jpg
bottom of page