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Um estudo sobre Marge Simpson


Creio que a personagem Marge Simpson dispense apresentações, esta é a matriarca da família mais famosa da televisão, Os Simpsons, e apesar de ela aparecer a maioria das vezes como segundo plano na própria série, ainda nos reserva uma personalidade única e que faz um reflexo a dona de casa americana. Durante os primeiros anos tivemos uma apresentação primorosa da personagem, um arco longo que nos mostrou muito de sua persona, neste artigo pretendo fazer um pequeno ensaio de quem a personagem é e foi no passado, também pincelaremos um pouco sobre o rumo da série, a politica desta e arquétipos.

Como já foi citado a personagem é mãe (coisa que ela se orgulha em evidenciar) e dona de casa, podemos construir duas personalidades para mesma baseado nas temporadas da série, pegarei as 6 primeiras para construir uma persona, e as mais recentes para construir outra.

Os Simpsons sobreviveram por tantos anos por terem seus personagens como arquétipos, ou seja, eles não possuem arcos narrativos que atravessam episódios, na concepção da série estes são apenas uma ferramenta de critica ao American Way of Life. Pode até parecer irônico o que direi, mas o desenho começou como uma das críticas mais ferrenhas a cultura consumista e de supremacia americana, sendo rapidamente adotado pela cultura punk, fato este que não reverberou através das temporadas, onde hoje é apenas mais uma série cômica. Isto nos ajuda a diferenciar as duas Marges que serão construídas neste artigo, vamos começar pela Marge clássica.

O papel da Marge não mudou com os anos, ela ainda é matriarca, dona de casa e uma esposa fiel ao marido, servindo de cola para manter a família em pé. Todavia, quando voltamos ao inicio da série descobrimos algo que vai além disso, ela é frustrada, e vive sobrecarregada, um claro reflexo a falta de proposito que uma dona de casa vivia no fim dos anos 80, encarrando o seu papel de cabeça baixa e reprimindo seus sentimentos negativos.

No episódio “A Lisa tristonha” da primeira temporada, Marge aconselha sua filha a enterrar sua melancolia em falsos sentimentos alegres, o que ajuda ela a se socializar, mas acaba com sua própria personalidade, rejeitando seu ser apenas para se encaixar. A própria mãe da família segue seu conselho, engolindo suas decepções, claramente tal ato não funciona e a mesma acabaria tendo um colapso nervoso no episódio “Bancando a Babá” da terceira temporada. A personagem possui inúmeros defeitos evidenciados nestas primeiras temporadas como o vicio em jogos, apresentado na quinta temporada, o trauma de aviões ocasionado por lembranças envolvendo a descoberta do pai em um emprego feminino, algo humilhante contextualizado para a época, e o tiroteio ao qual ela teve que fugir, possível referencia as guerras passadas dos Estados Unidos, a hipocrisia desta ao descobrir que sua irmã é LGBT, mesmo apoiando o movimento e muitos outros.

Podemos notar que a personagem do inicio da série era um retrato mais acido a mulher conformista que enterra sentimentos e esconde preconceitos, mas assim como qualquer outra série que tenha durado tanto como Os Simpsons, a personagem sofreria com o tempo, como a própria série ao todo. Percebemos que nas ultimas temporadas ela preservou o lado conformista, mas tornou-se politicamente correta. Nas temporadas recentes vemos uma mudança de comportamento da personagem, ela se torna mais correta a fim de fazer contraponto ao Homer, sendo o marido a parte despreocupada que vive uma vida de excessos e loucuras e a mulher o ponto fixo, que lhe trás a realidade. Seria muito fácil encaixar as frustrações passadas da personagem, como uma mulher representando não só o correto, mas alguém humano, com defeitos e pontos fortes. Contudo não é isso que vemos, mais e mais os roteiristas colocam-a em posição de idiota, ou melhor, inocente, vemos isso no recente episódio ao qual ela relembra um conto de sua infância que é baseado na escravidão e ela percebe como hoje aquilo é errado, como se a personagem não tivesse conhecimento dos seus preconceitos passados e fosse apenas corrigida com o tempo. Mas essa evolução não é mostrada, reservando a nós preencher esta lacuna.

O que podemos concluir com isso foi que a série se perdeu na sua crítica, antes ela fazia questão de evidenciar a falha dos americanos em cada episódio, seja por uma representação estereotipada destes como gordos e idiotas, trocando tudo isso para ser uma animação cômica politicamente correta, obrigada a concorda com todas as pautas e a calar suas criticas e até acabar com seus personagens, assim como aconteceu com o Apu, que não retornará mais a série, e está acontecendo com a Marge, que como não pode ser excluída é apenas jogada para segundo plano e para historias idiotas.

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