Pra que servem os personagens secundários?

O que mais marca na nossa memória sobre uma história são os protagonistas, eles são a vitrine do enredo, e sem eles não há história. Se perguntarmos a você sobre algumas séries, tenho certeza que a primeira coisa que virá a sua cabeça é o protagonista. Breaking Bad? Heisenberg! Brooklin Nine-nine? Peralta! Game of Thrones? Aí complicou, mas provavelmente veio ou Jon Snow, Daenerys ou Tyrion, já que essa série não é de um protagonista só.
Mas se os protagonistas são tão importantes, por que rechear a minha trama de personagens secundários? A resposta é simples, se a trama é um motor, o elenco de apoio são as engrenagens. Não entendeu?! Bom, vou explicar um pouco mais de como construir e posicionar estas peças na sua narrativa.
Em um jogo de xadrez, o Rei é a peça alvo e a mais importante, e envolta deles está lotado de peças menores, sacrificáveis e que nas mãos de um jogador novato serve apenas para alcançar o objetivo do jogo, a qualquer custo. Perceba que neste jogo apesar de o objetivo ser o Rei inimigo, pensamos muito mais nas outras peças que estão ao seu redor, e não é como se cada uma tivesse uma importância menor, você pode muito bem dar um xeque-mate com uma rainha, que é uma peça mais valorizada, como com um peão, que é usada apenas no inicio do jogo para abrir caminho. Mas as posições também se invertem, um peão pode se tornar uma rainha, uma torre, e passar a ter maior importância dentro do jogo. Percebe que apesar de o jogo ter um objetivo e uma peça principal, nossa atenção cai nas outras durante a maior parte do tempo?

Muitos roteiristas sabem escrever personagens principais de forma majestosa, com dramas internos, várias facetas, objetivos nobres, passados memoráveis. Eles empenham um tempo enorme neles, e não condeno por isso, sem eles não há filme. Mas quando a questão volta aos secundários, acabam caindo em clichês e transformando-os em personagens unidimensionais.
O elenco de apoio sempre existiu para relevar uma característica do próprio protagonista, servir como um impulsionador de trama, e isso vem lá de trás. Helena de Troia lançou milhares de navios e provocou uma guerra que durou quase uma década. E quando vamos ver algo baseado nessa história, sempre é pela visão espartana ou dos generais de troia. Mas quem foi Helena? E o que ela tinha de tão importante a impulsionar uma das maiores guerras do mundo antigo? A vida nos mostra que não é apenas um lado que deve ser ouvido, todos tem sua importância.
A indústria americana percebeu isso à muito tempo, e spinoffs sobre personagens de menor destaque começaram a surgir desenfreadamente. Até uma das maiores franquias, como Star Wars, teve um filme fora da cronologia mais aclamado do que a atual trilogia em lançamento. E é bom saber que há lugar para contar a mesma história por pontos diferentes, sendo que rendem mais trabalhos para os criadores, e consequente maior lucro.
Não investir em personagens secundários é um tiro no pé hoje dentro da indústria!
Saiba que a sua história não é sobre uma pessoa que aconteceu alguma coisa, e sim sobre um evento visto pelo ponto-de-vista de alguém. Então qual a maneira correta de construir um personagem de suporte?
Simples, empenhando uma energia e tempo semelhante a que você fez ao construir seu protagonista. Sim, pode ser demorado, mas se estes são a engrenagem do motor, sem elas ele não funciona. Estes elementos devem ser tridimensionais, terem um passado. É claro que em algum momento iremos acabar exagerando em alguma característica dele. Em um filme de máfia, o traidor é sempre visto com maus olhos pela a audiência. Mas porque ele traiu? Será que ele tem medo que envolvam sua família? Será que ele foi chantageado? Será que ele almeja um cargo maior dentro da máfia que não alcançaria com o antigo chefe?
Por fim é bom manter o controle, existem casos de secundários que ganharam tanto destaque que o autor teve que rebolar para reconstruir sua persona. Para um escritor preparado, ele já saberá do passado deste, já conhecerá suas camadas.