top of page

A Voz do Roteirista vs A Voz do Personagem.


Imagem de South Park sobre tiroteio em escolas

Em tempos polarizados, onde todo mundo está ansioso para julgar o próximo, fica cada vez mais difícil separar a voz dos roteiristas com a voz dos personagens. Mas por que isso acontece?


É normal você ver por aí pessoas que encaram o cinema apenas como plataforma para seus discursos políticos e ideológicos, gerando produtos que ninguém quer consumir de tanto que são doutrinadores. Isso acontece porque o roteirista não consegue separar sua voz de seus personagens e isso era até muito recentemente socialmente aceito. Isso significa que apenas mulheres podem escrever sobre mulheres, que apenas negros podem escrever sobre negros, apenas trans podem escrever sobre trans, o que é se trancar em uma caixinha. Não faz o menor sentido. Pra eles, escrever sobre racismo é ser racista.


Existem também pessoas que não conseguem diferenciar a voz dos OUTROS roteiristas de seus personagens. Quantas vezes você foi chamado de machista porque escreveu um personagem machista?


Eu já passei muito por isso. Na faculdade tive uma professora que era extremamente feminista, a ponto de recusar qualquer personagem que não se enquadrasse em sua agenda e atribuindo as qualidades do personagem ao roteirista. Na época em questão, eu escrevi um personagem machista e racista de propósito. Fazia parte da jornada do personagem. Como todo roteirista sério sabe, se você quer que um personagem aprenda em sua jornada que machismo é errado, ele DEVE obrigatoriamente começar no machismo em si.


Essa professora tinha tanta raiva de mim, por causa desse personagem, que quando eu ia me consultar com ela pra ver como eu poderia melhorar o roteiro, ela se recusava a falar comigo, se limitava a respostas curtas e assim que nosso tempo acabava ela levantava e ia embora sem dizer tchau, como se fosse uma tortura estar ali comigo, porque segundo ela, eu era machista por escrever um personagem machista.


Fast Forward para 2018, em um dos maiores festivais do Brasil, eu ouço do representante de uma das maiores produtoras do país que ele vê como um problema a quantidade de homens escrevendo personagens femininas. Segundo ele, Homem não é capaz de entender a cabeça da mulher e por isso não deveria nem tentar.


Eu me pergunto o que essas pessoas pensam quando vêem um filme como O Lobo de Wall Street, onde personagens debatem se anões são ou não dignos de direitos humanos, ou será que quando vêem 12 anos de escravidão ficam com raiva dos atores que interpretaram personagens racistas?


Vale a pena ressaltar que personagens não são pessoas de verdade, são frutos da imaginação do autor e portanto não têm direito a "direitos humanos". Isso deveria ser lógico. Se eu sou racista com um personagem não significa que eu serei com uma pessoa real. A arte, especialmente o cinema e a TV servem justamente para explorar sentimentos e situações que são proibitivas na vida real. A sua voz como roteirista não precisa concordar com a dos seus personagens. Você pode escrever sobre um serial killer e isso não significa que você vá sair matando gente por aí. Você pode escrever uma série médica, o que não significa que você está exercendo a medicina ilegalmente.


Os próprios artistas, que eram os bastiões da liberdade de expressão e de pensamento se mostram preconceituosos quando abordamos certos assuntos em nossas obras e constantemente buscam transferir essas qualidades para o autor. Se eu escrever um personagem gay, tudo bem, mas se eu escrever um nazista, na na nina. Entende o que eu quero dizer?


Não deixe que a sua ideologia te transforme em um roteirista de uma nota só. Falar sobre machismo, racismo é importante SIM, mas a partir do momento que essas narrativas começam a ser dominantes no cinema, quem perde somos nós, que trabalhamos e consumimos.


Por um cinema sem rótulos e sem preconceitos, onde personagens são livres para aprenderem suas lições das formas mais explícitas possíveis. O que você acha? você acha que o roteirista está inegavelmente ligado a sua obra ou você acha que ele é capaz de escrever de fora sobre assuntos que não concorda? Se você fosse contratado, escreveria a biografia de Hitler? De Stalin? De Lula ou Bolsonaro? pense nisso.






fd11_Banner_220x220.jpg
bottom of page