Criar e Vender - A Realidade da Profissão de Roteirista

Existe um enorme abismo entre o roteiro que aprendemos nas escolas e o roteiro que o mercado consome. É bem comum o aluno que sai da faculdade levar um choque ao se deparar com a realidade. Eu mesmo fui um deles. Aprendi na marra, errando e levando portas na cara. Hoje eu criei o Roteirista Empreendedor não para que você não leve portas na cara, mas para que você não se abale com as que inevitavelmente vai levar. Sim, existe carreira após o "não".
Uma das coisas que nenhum curso de cinema/roteiro ensina é a realidade do mercado. É como ensinar o módulo básico pro aluno e depois falar "se vira" quando ele se forma. Vejo hoje, assim como há 10 anos, quando estudava cinema no Brasil, jovens que saem da faculdade bitolados a ponto de lutar contra o mercado que eles mesmo querem fazer parte. O que é no mínimo contra-produtivo.
Antes de começar a falar sobre a realidade do mercado, é preciso deixar alguns pontos bem claros. Como roteirista, a principal obrigação que você tem é ESCREVER BEM. É sua obrigação - e de mais ninguém - dominar a arte e a técnica do roteiro e ser bom no que faz. Se você não for bom, não adianta chorar, tem que estudar mais e se especializar mais.
Você fica bom em tudo aquilo que você pratica. Parece lógico, mas muitos jovens aspirantes a roteiristas jogam a lógica no lixo quando o assunto é sua própria profissão. O cara escreve um roteiro, leva uma porta fechada na cara, diz que o mercado é preconceituoso, diz que ninguém entendeu a genialidade de sua escrita e por fim reclama da realidade e das "panelinhas" enquanto deveria estar estudando. O trabalho do roteirista se divide em duas partes: CRIAR e VENDER. Se você só cria, precisa aprender a vender. Se você só vende, precisa aprender a criar. Um roteiro não se vende sozinho e você pode achar que escreveu algo digno de Oscar, mas se não souber apresentar esse roteiro, se não souber o que é Pitch... se não souber vender, ele vai continuar na sua gaveta.
A boa notícia é que, assim como em outras profissões, você pode se juntar com outra pessoa cujo talento complementa o seu. Se você é muito bom em criação, junte-se com alguém que seja muito bom em vendas e vice-versa.
Na indústria norte-americana, existe a figura do Agente, que é aquele cara que vai fazer a parte de vendas pra você em troca de 10% do seu rendimento. Mas enquanto não temos uma indústria capaz de sustentar roteiristas e agentes, precisamos nós mesmos fazer o trabalho. E acredite, o mercado pertence aqueles que entendem a função do roteirista e que não medem esforços para serem melhores que a concorrência.
Escrever é só metade do trabalho. É preciso frequentar eventos de pitch, rodadas de negócios, feiras de mídia. É preciso frequentar festivais, conhecer gente, distribuir cartões de visitas. É preciso ganhar prêmios, ir conquistando seu espaço. Ninguém nunca disse que seria fácil.
Vejo até hoje que muita gente teem dificuldades de entender que roteirista é uma profissão como outra qualquer e que é obrigação de cada um se manter atualizado e relevante no mercado. Se você não sai de casa, não entra em concurso nunca ganhou nada e depois reclama porque ninguém "te descobriu" ainda, você está fazendo tudo errado. É preciso ralar, - como em qualquer outra profissão - é preciso estudar, se especializar, evoluir, senão você fica pra trás.
Pra finalizar, uma analogia bem simples.
Imagine que você decide fazer pastel. A primeira coisa que você vai fazer é aprender uma receita e colocá-la em prática. As primeiras "fornadas" não vão sair do jeito que você quer, mas aos poucos você vai afinando os ingredientes, dosando o sal, regulando os temperos, até que o pastel sai gostoso, crocante por fora, bem temperado, uma maravilha.
Mas daí você fica em casa, com aquele monte de pastel na mesa da cozinha esperando que alguém bata na sua porta pra comprar ou você vai pra rua vender o seu pastel?
Aí, na rua, você descobre que existem outros vendedores, e que o seu pastel não é o único do mercado. Sua obrigação passa a ser oferecer um pastel MELHOR que o do seu concorrente e é com isso que você vai evoluindo. Se o seu concorrente adiciona azeitona no pastel dele, você vai e adiciona bacon. Se ele oferece refresco, você vai oferecer suco, e assim vai.
O mercado pertence a quem consegue entregar a melhor qualidade - nem sempre pelo menor preço. Se o seu pastel for gostoso mesmo, o cliente te procura mesmo tendo outro mais barato. Ele vai atrás do que ele SABE QUE É BOM.
E não cabe a você regular por quanto o seu concorrente vende o pastel dele. Você deve cuidar do seu. Se o concorrente vende pela metade do preço, dificilmente ele vai se sustentar no mercado. Mais uma vez, quem tem confiança na qualidade do seu produto, não se importa com o valor do concorrente. Até hoje quando alguém me diz que "fulando escreve pela metade do seu preço" minha resposta é sempre a mesma: "Vai lá e contrata fulano então. Mas se você quer o MEU produto, fruto da MINHA expertise, vai ter que pagar o MEU preço."
Nós somos criadores de propriedade intelectual. Criamos produtos que servem de base para uma das indústrias mais lucrativas do mundo, a do entretenimento. E você ai pensando que roteirista "só escreve".
E se você quer entender mais sobre o mercado de roteiro, não deixe de participar do Scriptlab, o Laboratório de Roteiro de Séries com o foco no MERCADO. Aprenda o que o mercado quer e como ele quer receber esses projetos, e acima de tudo, como deixar o SEU produto mais competitivo.