Como Funciona um Sindicato de Roteiristas nos EUA?
Aqui no Brasil, eles são chamados de sindicatos. Lá, os gringos chamam de Unions, mas no fundo elas regem as regras que todos os membros são obrigados a seguir. A diferença é que lá a Union trabalha pra você e te oferece uma série de benefícios, enquanto aqui...
No Brasil, a cultura sindicalista existe há muito tempo e até hoje tem gente que vai defender com unhas e dentes modelos de sindicatos que exigem muito do trabalhador e não oferecem nada de volta. Já na América do Norte, as Unions oferecem benefícios que justifiquem suas anuidades e que aqueça a indústria, gerando novos membros.
Se você é um roteirista em Los Angeles, por padrão o seu status é "NON-UNION" significa que você não é afiliado ao "sindicato". Isso não significa que você não possa trabalhar. Muitas empresas procuram exatamente profissionais Non-Union porque são, normalmente, iniciantes e custam muito menos do que um roteirista experiente e consagrado. Isso parece óbvio. Para passar para o próximo estágio da sua carreira, você precisa antes de tudo construir uma carreira. Diferentes Unions possuem diferentes critérios. No Canadá, basta que você venda um roteiro por no mínimo 5 mil dólares para uma produtora registrada - Aquela que se registrou na guilda dos roteiristas e aceitou as convenções dela . Já na WGA-West, a Writer's Guild of America-West (A Guilda dos Roteiristas da América - Oeste) trabalha com um sistema de pontos.
Você precisa somar 24 pontos em três anos, que você conquista vendendo roteiros dentro da jurisdição do sindicato. 2 pontos para trabalhos semanais, 6 pontos para roteiros de curtas, 12 pontos por um longa e assim vai.
Uma vez que você se estabeleceu, fez alguns trabalhos e foi reconhecido como um roteirista profissional, é hora de cruzar o limiar para o segundo ato de sua carreira, se filiar. Você vai pagar uma taxa de inscrição e uma anuidade e passa a ser protegido pelas convenções do sindicato. A partir do momento em que você se filia, você fica proibido de aceitar trabalhos fora dos valores mínimos do sindicato e de aceitar trabalhos de Non-Union. Uma "classe" não compete com a outra, de modo que é impossível um roteirista experiente tirar trabalho de um iniciante e vice versa.
Mas as Unions não querem só papar a sua grana sem oferecer nada em troca. Quando você se filia, a Union oferece um plano de carreira, agentes e empresários, plano de saúde, dental, seguro de vida e aposentadoria para seus membros, tudo com o dinheiro que você mesmo paga anualmente.
A Union trabalha para você, ela te posiciona frente aos clientes, de modo que sempre que um studio pede uma indicação para a Union, ela indica o profissional, baseado no briefing do studio. "Eu quero um roteirista de 5 anos de casa". lá vai a Guilda entrar em contato com os agentes dos roteiristas que tem 5 anos de casa. é mais ou menos assim que funciona.
A Guilda também oferece programas de formação de showrunners, que transformam roteiristas em verdadeiras máquinas de conteúdo.
Lembram da grande greve de roteiristas de 2008? Na época eles exigiram destaque maior nos créditos e revisão do plano de saúde dos roteiristas... e ganharam. Sem eles a industria daquele ano afundou, justamente porque os produtores tiveram que contratar non-unions para tapar buracos, gente iniciante que não aguentava o tranco.
não existe situação onde um iniciante vai receber o mesmo que um roteirista mais experiente. Quanto mais portfólio, quanto mais RESULTADOS você tiver pra mostrar, mais você ganha.
Quanto vale seu primeiro roteiro? Quanto o seu primeiro cliente puder pagar. Se você acha que vai receber o mesmo que o Bráulio Mantovani em início de carreira, vai continuar iniciante pro resto da vida.
Construir uma carreira é um processo a longo prazo. Não existe atalho, nem jeitinho pra chegar lá. Ou você escreve bem, ou não escreve.
O bom é que escrever bem é só uma questão de prática. Quanto mais você escreve, melhor você fica.
Você queria ver um sindicato nesses moldes no Brasil? O que falta pa chegarmos lá?
