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Evitando Estereótipos. Os “Ismos” do Cinema.



O carnaval acabou e é hora de retomar os trabalhos. Se você, como eu, aproveitou o período para colocar a leitura em dia, parabéns. E foi lendo esse fim de semana que resolvi escrever sobre esse assunto. Uma coisa que eu penso constantemente em tudo o que eu escrevo. Como evitar o uso de estereótipos.


Muita coisa é inconsciente e no início eu tive que me policiar bastante. Desde pequeno somos bombardeados por influências e referências de outras culturas, e querendo ou não absorvemos essas referências no nosso dia a dia.


Passando longe da discussão do que é racismo ou sexismo e analisando apenas aos fatos, você é capaz de perceber constantes “ismos” nos seus filmes favoritos? O resultado é assustador, e uma vez que você se dá conta disso, não tem como voltar atrás.


Vamos para o mais óbvio. Já percebeu que não importa se o protagonista é o Adam Sandler ou o Seth Rogen, eles sempre estarão acompanhados de pares românticos muito mais atraentes do que eles. Isso é tão sério que volta até o tempo dos Flintstones. Lembra do Fred? Gordo, mal humorado, ranzinza e reclamão. Lembra da mulher do Fred, a Wilma? Uma ruiva de cinturinha fina e pernas longas. Que tal o Homer Simpson, gordo, burro e irresponsável, casado com a Marge, uma dona de casa que consegue manter a forma mesmo sem ir a academia.


No cinema isso se reflete nos filmes de Kevin James, Vince Vaughn, Jack Black, etc. Não importa o quão gordo e estranho você seja, se você for o protagonista, sua mulher será linda, inteligente e completamente fora do seu nível.


De acordo com o “Modo de Vida Americano” dos anos 50, Homem de sucesso é aquele que fuma charuto no country club e compete com os amigos para ver quem tem a esposa mais bonita. De acordo com o mesmo modo, O sucesso da mulher é medido pelo quanto ela consegue cuidar da casa e se mater linda e elegante ao mesmo tempo. Apesar de toda a luta de mulheres desde os anos 50 até hoje, a figura do homem gordo casado com a dona de casa enxuta ainda é modelo na cabeça de muita gente. Principalmente os executivos velhos que ainda comandam os studios de Hollywood.


Vamos ver o outro lado. Já notou como nos filmes pipoca, a mulher gorda é sempre tratada como alívio cômico? Veja Bridesmaids, por exemplo, ou qualquer outro filme da Melissa McCarthy. Veja Pitch Perfect e me diga o que você acha da personagem de Rebel Wilson. A ideia de que se uma mulher é gorda, ela deve ter uma personalidade totalmente pervertida para ser interessante também já é muito ultrapassada. No entanto, vemos exemplos disso todos os anos no cinema.


Que tal quando o par romântico é feito entre um cara muito mais velho que a mulher? Totalmente normal. Um filme com Ben Affleck (43) e Jennifer Lawrence (25) pode parecer normal pra muita gente. E é. No cinema é comum, principalmente para homens acima dos 50, fazerem par romântico com mulheres 20, 30 anos mais jovens.


Agora quando o papel se reverte e você tem uma mulher de 50 com um garoto de 20, isso se torna todo o tema central da história. Por que? Um é menos normal do que o outro?


Li um teste recentemente que achei muito interessante. Vou tentar reproduzir aqui mais ou menos.


Leia a descrição da cena abaixo.


INT. LIMOSINE – NOITE


LUCCAS MANET, 22 é cantor sertanejo e sucesso das paradas e isso se reflete em seu estilo. Calça justa, camisa decotada, cabelo bem cortado.


LETICIA LIMA, 25, hostess da Casa de Shows está de pé, aguardando para recepcionar Lucas.


O MOTORISTA, um homem alto e forte vestindo um terno preto tinha uma cara fechada, como um cão de guarda. Só com o seu olhar ele intimida as pessoas a recuarem para que ele abra a porta. Luccas desce do carro.


Vamos ver. Lucas é branco, Letícia é uma mulher linda e o Motorista é um negão mal encarado? Se você viu outra coisa, parabéns. Hoje em dia muitos atores negros deixam de ganhar papéis simplesmente porque o “padrão” da cabeça de quem lê pede sempre um protagonista branco, de olhos claros, queixo firme e peito largo. Muitas atrizes perdem papéis porque não se enquadram no perfil “Barbie” que está tão presente na cabeça das pessoas. Letícia pode ser baixinha, magra, gordinha, oriental. Ela podia ser qualquer coisa, mas as chances são que a atriz escolhida no final das contas será uma jovem de corpo estonteante.


Hoje, em pleno ano de 2016 é que as mulheres estão finalmente invadindo o cinema e a TV. Supergirl está fazendo o maior sucesso nos Estados Unidos. Os Caça Fantasmas vão ser rebootados com um elenco todo feminino. As heroínas dos quadrinhos estão finalmente sendo representadas no cinema. Já tinha passado da hora, mas antes tarde do que nunca.


Bom, mas escrevi tudo isso só pra refletir nos estereótipos que eu mesmo, e todos nós acabamos usando em nossos textos. O gordinho como alívio cômico, o protagonista galã, o nerd, a gostosa. Chega um certo momento em que deixamos de enxergar pessoas nos personagens e passamos a enxergar apenas estereótipos, e isso é um problema.


A alguns anos atrás eu conheci o seriado “Girls” da HBO. Se você nunca assistiu, eu recomendo que você largue tudo e vá assistir a primeira temporada agora.


Escrita, produzida, dirigida e estrelada por Lena Dunham (Se você não sabe quem é, já tá na hora de conhecer). Hannah é uma garota comum. Não é particularmente bonita, nem particularmente talentosa. Ela não tem, nem sonha com um príncipe encantado. Ela come sem se importar com a balança. Ela chora e sorri normalmente como qualquer pessoa.


Irônicamente, a melhor amiga de Hannah, que é a típica menina linda da TV, é uma personagem que é refém da própria beleza. Uma pessoa presa em um conceito de que se você é atraente, você deve apenas se relacionar com pessoas tanto ou mais atraentes que você. Nunca para menos. Uma menina que apesar de ser bonita, ter um emprego dos sonhos e um namorado perfeito simplesmente não consegue ser feliz.


O que me atrai em Girls, é a forma como esses personagens tão complexos se relacionam. Você sente que são pessoas normais, com problemas de verdade e não apenas arquétipos servindo ao plot.


Aliás, para os fãs de Star Wars que estão lendo. É em Girls que você vê, pela primeira vez o Adam Driver, o Kylo-Ren do Despertar da Força.


Bom, é isso galera. Acabei me alongando demais, mas depois de um feriadão de carnaval, ir voltando ao ritmo de trabalho.


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